FRASE DA SEMANA

FRASE DA SEMANA

terça-feira, 29 de novembro de 2016

"Ela delira!"



Esses dias fui visitar a minha tia em uma casa de repouso especializada em receber pessoas que apresentam problemas psiquiátricos. Na verdade, como ela tem momentos bons e momentos de crise, eu achei que era somente um lugar de descanso e que não estaria com outras pessoas que apresentam o mesmo quadro. Fiquei sabendo como era exatamente através da visita.

No rosto da minha tia, a geografia da sua vida. Parecia que cada uma de suas rugas reservava a capacidade de me contar um trecho de sua história. Quando eu cheguei ela estava lendo um livro à beira da piscina e ficou feliz em me ver. O abraço que demos era como dois copos vazios sendo cheios de amor recíproco.

A visita a minha tia foi uma das experiências mais interessantes da minha vida. Eu me deparei com pessoas que falavam sozinhas, que andavam de um lado para o outro tão alheias a tudo mas que, ao mesmo tempo, estavam presentes em seu mundo, em meu mundo, em nosso mundo. O que senti foi uma mistura se sentimentos e sensações, talvez compaixão, surpresa, alegria, medo, empatia, aceitação.

Me senti como um conta-gotas preenchendo a solidão de cada uma daquelas preciosas vidas. Mal sabem que essa visita foi capaz de me ensinar muitas coisas. Eu fui para doar, mas acabei recebendo. Recebi de uma vida frágil chamada Silvia um sonoro "Eu te amo!", mãos dadas, um sorriso puro, sincero e a frase: "Meu pai morreu em 1994. Tadinho do meu pai". Foi quando o seu olhar ficou vago novamente e na imensidão de sua dor e lúcida loucura eu apenas tentei acompanhá-la, colocando-me no lugar dela. Há minutos atrás eu estava ali dando e recebendo um abraço restaurador para mim e para ela. "Ela delira", foi o que uma delas disse sobre a Silvia. Pois era o delírio mais compreensível e afetuoso que presenciei até então... 

A essa altura a minha tia havia me apresentado a todos. Eu me sentia confortável, chamava cada um pelo nome, olhava nos olhos e parece que pelo menos naquele instante os efeitos dos medicamentos que eles tomavam não valia muita coisa. Algo nos conectava. Você chamaria isso de que? Eu chamaria de "bondade de Deus"!

Comecei a pensar no que somos diferentes. Pode ser que a loucura de nossas vaidades, ganância, inveja e orgulho tenha nos feito doidos varridos. Se nossos olhares não vagueiam por efeitos medicamentosos, vagueiam porque nada ao nosso redor nos interessa.

É necessário estarmos vazios para que Deus nos encha com algo bom para podermos transbordar e compartilhar com o próximo. Vejo que o primeiro passo é reconhecer que, diariamente, podemos e devemos aprender algo com o outro. O amor, porém, significa Jesus Cristo, sendo o elo perfeito entre nós. Sem esse amor, nada de útil e agradável teríamos para oferecer.

Delírio? Quem nunca? Olha Deus aí espalhando o Seu amor usando vidas improváveis. Deus é maravilhoso. O delírio está em nossos olhos, em nosso julgamento, em nossa mente, em nossa malícia. Ele permanece sendo Deus e usará a mim e a você, quem Ele quiser, para que Seu propósito perfeito se cumpra. Loucura ser o alvo do amor do Pai mesmo sendo quem você é? Põe loucura nisso! Eu, porém, quero mergulhar na imensidão desse amor doidão de Deus por mim. E você?

Forte abraço.