São 23:18h desta segunda-feira, dia 20 de julho. Hoje é Dia do Amigo. Eu estava até deitado pronto para dormir, mas, como acontece de tempos em tempos, já sabia que não conseguiria dormir sem antes escrever, sem antes registrar do coração para o lápis e do lápis para o papel o que estou sentindo.
O fato é que, ao chegar em casa, após o jantar, recebi a notícia de que um jovem conhecido da família faleceu em São Paulo. Dois anos mais velho do que eu, da idade de um dos meus irmãos, ele faleceu após ter comido muito e ter ido para a piscina logo em seguida. Por muitos anos ficamos sem contato e quando o meu irmão mandou a foto dele, imediatamente lembramos quem era e isso muito nos abateu. Esse rapaz, o Robson, já havia perdido a mãe na adolescência, tanto que uma vez ele foi na minha casa e a minha mãe perguntou por quê ele estava tão vermelho. Ele disse que era por tanto chorar pela morte da mãe. O Robson se foi. Ficou seu pai. Ficaram seus dois irmãos. Ficaram seus amigos. Certamente ele deixou sua marca por onde passou. Fica o seu prato favorito, o seu time de futebol, sua música preferida, suas fotos de infância, a roupa que mais gostava de usar, preciosos registros no coração e na mente daqueles que o amavam. Mas acabou. Ou será que começou? O que fica? O que foi? O que ficará para sempre? O que é a vida? Que coisa maluca! São impressões e sentimentos que se misturam.
"Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: Tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter (...)" (Eclesiastes 3:1-5)
E parem para pensar ... a vida, esse presente de Deus tão fascinante, tem sido pesquisada em outros planetas. Os noticiários informam que chegamos em Plutão. Um novo planeta também foi descoberto. Ele está tão distante de nós que, mesmo na velocidade da luz, demoraríamos 57 anos para chegar lá. Diante dessa imensidão que veio a existir por um Deus Único, Eterno e Criador do universo, sinto-me às vezes um pouco egoísta por me ater à coisas tão pontuais e pequenas diante da eternidade. Mas, ao mesmo tempo, paro e percebo um mundo dentro de mim, um mundo dentro de cada um de nós. Então tudo deixa de ser egoísmo e passa a ser a certeza de que somos importantes para Deus, filhos amados, sonhados e criados por Ele. Do universo para a Terra, da Terra para o Brasil, do Brasil para a minha casa, da minha casa para o meu coração, que pulsa vida assim como o Sol, mas é um pontinho, um grão de areia diante dessa imensidão.
E nesta mesma noite de notícia de perda, de morte, simplesmente recebo uma mensagem de áudio do meu melhor amigo de infância, com quem restabeleci contato após mais de vinte anos. Há alguns dias eu o achei nas redes sociais de familiares, mas essa foi a primeira vez que ouvi a voz dele após duas décadas. Ouvi a voz do meu melhor amigo, inseparável, leal, dono de uma caixa de papelão com os brinquedos mais legais, cuja mãe fazia o meu bolo preferido no aniversário dele, três dias antes do meu e cantávamos "parabéns pra você" batucando na mesa, na caixinha de fósforo ou no que estivesse por perto. Ouvi a voz do meu amigo que comigo pegava doces que caíam no chão e dizíamos "o que não mata, engorda." Ouvi a mesma voz mansa do meu amigo me chamando de "irmão" e me cumprimentando com a paz de Cristo, dizendo que vai se casar e torcendo para que eu também me case. Não há Plutão ou Júpiter e nem a descoberta de planetas que mexa mais com o meu mundo do que a alegria de saber que Deus guardou as nossas vidas e fez do meu amigo o meu irmão eterno. Encontros e desencontros. Idas e vindas. Saudações e despedidas.
A gente passa a perceber que somos como um sopro, como barro, como pó, mas sempre com uma missão a cumprir, coadjuvantes e protagonistas da nossa própria história nessa corrida da vida entre escolhas e decisões, acertos e erros, em que a linha de chegada é alcançada por uns antes de outros.
A gente passa a perceber que cada segundo de nossa vida deve ser vivido de uma maneira memorável, até porque não sabemos se sairemos vivos de uma piscina. Guardar ressentimentos já não faz sentido algum. Olhar a vida pelo lado negativo e do mau-humor já não é interessante. Há sempre um propósito. Há sempre um sentido. Há sempre um "oi" e um "até logo". Sempre haverá um "adeus". Que haja sempre um "muito obrigado! Valeu a pena!". Nesse piscar de olhos, vale e cabe sempre um "eu te amo", até porque não sabemos se será o primeiro ou o último antes de fazermos parte da realidade da vida eterna. Cada batida de nosso coração é o sinal de que o fôlego de vida nos alcança com graça e há sempre um sorriso estampado no rosto, um abraço a ser dado, palavras ditas com os olhos, corações colocados na ponta do lápis...
00:43h... O Sol brilha no Japão. Aqui é hora de dormir... É sempre assim ...