O
fato de apontar desafios para uma espiritualidade Cristocêntrica nos
dias de hoje torna-se uma tarefa aparentemente simples, sobretudo se
considerarmos que as mazelas da humanidade parecem ser as mesmas
desde o Jardim do Éden.
As próprias características caídas
do homem podem, então, ser apontadas como esses desafios para que em
Cristo as pessoas consigam encontrar o verdadeiro sentido para a
espiritualidade que tanto procuram. Assim, considera-se como desafio
todo o comportamento humano que se opõe ao que Jesus Cristo espera
daqueles que, potencialmente, podem ser Seus.
Parece
que hoje, mais do que nunca, o homem vive na Terra como se nela fosse
permanecer para sempre. Buscar auxílio espiritual em Cristo, ter o
Mestre Jesus como parâmetro na jornada terrena acaba sendo
desnecessário. Por que? Ora, há um deus dentro de nós: somos
suficientemente bons, culturalmente evoluídos, economicamente
satisfatórios, profissionalmente interessantes, intelectualmente
ilimitados. A espiritualidade que buscamos não serve para nos
confrontar, mas apenas deve confirmar e confortar a nossa escolha.
Imersos
no individualismo, no consumismo, numa competição selvagem das mais
variadas naturezas, não é necessário descobrir se existe uma
verdade espiritual a ser alcançada, até porque somos deuses. Qual a
necessidade de uma espritualidade Cristocêntrica?
Vemos um Oriente com cheiro de incenso
subindo (ou descendo?) às narinas de milhares de deuses, fato que
demonstra uma espiritualidade democrática, porém pulverizada. Basta
nos desligar do mundo e, em nosso transe, atingirmos o nível
espiritual máximo, afinal de contas, qual o problema em fazer de uma
pedra ou do mosquito que pousa nas fezes de um cavalo aquilo que vai
nortear (eia aí o “centrismo”!) nossas vidas? Qual o problema na
criação ditando as regras frente ao próprio Criador? Bem, a
Verdade nos diz através do profeta Isaías que tudo isso é como um
sopro, que seus feitos são nulos e que não passam de uma nulidade.
No
Ocidente o maior desafio talvez seja o avanço de uma tecnologia que
nos torna vulneráveis e propensos a um retardamento espiritual sem
limites. Temos dificuldade para obedecer regras. É tão difícil
sermos obedientes … e o que dizer de obediência a um Deus na
figura de Jesus Cristo O
qual nem vemos? Precisamos ver, precisamos tocar, assim como
artificial e superficialmente fazemos com o nosso próximo nos
teclados de aparelhos eletrônicos que nos tornam tão débeis e
consideravelmente distantes do propósito original de Jesus: o
relacionamento entre Deus e o homem e entre a própria humanidade.
Somos órfãos dentro de nossa própria casa...
Nos
dias atuais, a espiritualidade Cristocêntrica torna-se cada vez mais
ultrapassada, pois ultrapassado e lendário é acreditar em um
super-herói que esteve aqui há mais de dois mil anos atrás. Cristo
nos choca com a sua proposta de nos virar do avesso e fazer com que
saiamos de nossa zona de conforto. Alimentamos a nossa alma pensando
que o nosso espírito está sendo beneficiado. O que podemos ter em
troca de uma busca e satisfação espiritual em um Cristo que me diz
para ser humilde, para ser servo, para oferecer a outra face quando
uma é esbofeteada, para abençoar meus inimigos quando eles me
perseguem e querem me destruir (ora … eu é quem devo acabar com
eles … o melhor salário é meu! A fama é minha! As ovelhas são
minhas! A igreja é minha! Tudo é meu!)?
É curioso observar a complexidade
desses bonecos de pó inflados com o sopro da vida. A solução
torna-se a espiritualidade que cada um faz de si mesmo.
A
essência daquilo que é divino torna-se banalizada se consideramos
que o homem é um deus, em que o egocentrismo, o antropocentrismo e
os “ismos” da vida, os “ismos” do mundo fazem frente ao
Cristocentrismo. Os desafios para uma espiritualidade Cristocêntrica
nos dias atuais são tão complexos quanto a dificuldade de
abdicarmos ao nosso trono, seja este o do tempo, o da desobediência,
o da infidelidade, o da incredulidade, o do hedonismo, o da filosofia
vã, o do orgulho … tudo da mesma forma como sempre foi, afinal, o
que é “dia atual” para Aquele que é Eterno?
Que
Deus nos perdoe, pois nos desviamos para a direita e para a esquerda,
só não acertamos o alvo, o centro, o Cristocentrismo, atual e
necessário como nunca antes!